Nesta
quinta-feira, 7, a Igreja Católica no mundo inteiro celebra uma
importante solenidade que reveste o mistério central de sua fé: Corpus Christi.
Neste dia, celebra-se o Santíssimo Sacramento do Corpo e do Sangue de
Cristo. Como tradição popular, muitos fiéis enfeitam as ruas com tapetes
feitos à base de pó de serragem, com o objetivo de preparar o local
para a procissão que traz o grande motivo da festa, Jesus Eucarístico.
Esta é uma solenidade que há séculos faz parte da vida dos cristãos
católicos. O assessor da Comissão Episcopal Pastoral de Liturgia da
Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), padre Hernaldo Pinto
Farias, explicou que a festa nasceu de uma prática da devoção popular
que tem início no final do século IX, mas já no século XI ao XIII está
muito difundida em vários lugares da Europa. Depois, em 8 de setembro de
1264, o Papa Urbano IV, com a Bula Transiturus, instituiu esta celebração para toda a Igreja.
De acordo com padre Hernaldo, essa prática surgiu por causa da defesa da
compreensão da teologia da presença real. “Contra as heresias do início
do segundo milênio, essa festa vem reforçar a posição e a orientação da
Igreja sobre a presença real de Jesus Cristo no Santíssimo Sacramento”.
O padre comentou ainda que a Reforma Litúrgica procurou ampliar o Missal
de 1970 até o atual, utilizando a denominação de Santíssimo Sacramento
do Corpo e do Sangue de Jesus Cristo. “Ou seja, é uma solenidade do
Corpo e Sangue de Cristo, não só do Corpo, pra não dar esse sentido de
redução da compreensão do próprio mistério do Corpo e Sangue de Cristo”,
explicou.
Importância
Para enfatizar a importância de se reconhecer em Corpus Christi uma
solenidade não só do Corpo, mas também do Sangue de Cristo, padre
Hernaldo recorreu à uma menção que o Papa João Paulo II, hoje beato, fez
sobre o Sacramento na Carta Apostólica Mane Nobiscum Domine, de 2004. Nessa carta, o beato disse que nenhuma dimensão desse Sacramento da Eucaristia pode ser deixada de lado, esquecida.
“Neste sentido, os textos bíblicos propostos, portanto, para esta festa
nos trazem todas as riquezas deste Sacramento, como alimento, como
banquete, aliança, sacramento da unidade da Igreja, do memorial da morte
e da ressurreição de Cristo, não fica apenas no sentido da morte, mas
revela o mistério como tal”, enfatizou o padre.
O assessor da Pastoral Litúrgica da CNBB lembrou que o sentido maior
dessa solenidade está na celebração da Quinta-feira Santa. Dessa forma, Corpus Christi é
como uma repetição, uma duplicação do dia da instituição da Eucaristia,
porém com um aspecto mais devocional, o que também é bem vindo para a
Igreja. “A Igreja não condena, porém ela quer nos ajudar a não ficar no
puro devocional, se não a gente se perde”.
A tradição dos tapetes, por exemplo, que todos os anos tomam as ruas de
diversas cidades do país para preparar a procissão que traz Jesus
Eucarístico, segundo padre Hernaldo, é costume popular de reverenciar,
de dar importância e exaltar a própria Eucaristia. O Padre explicou que,
no entanto, a Igreja não pode parar nesse puro reverenciar.
“A gente lembra os Santos Padres que nos convidavam a olhar o Sacramento
para além dele, ou seja, a gente tem que celebrar, ver o Sacramento
para além daquilo que ele está mostrando enquanto realidade física, ele
está revelando também todo um mistério que esse Sacramento quer nos
ajudar a viver”, ressaltou.
Participação ativa
Como padre Hernaldo explicou, os tapetes de Corpus Christi já
fazem parte da tradição popular. Em Lorena (SP), o professor aposentado
Cláudio César de Araújo, que já foi ministro da Eucaristia e fez a
experiência de ajudar nesta tradição dos tapetes, contou que é muito
gratificante poder participar ativamente.
“A sensação primeira é de gratidão. A gente vai mesmo por gratidão de
tantas bênçãos que a gente recebe Dele (Jesus) e pelo prazer de querer
deixar uma rua bem bonita e bem enfeitada para que Jesus passe por lá, é
o mínimo que nós podemos fazer. É uma alegria poder participar sabendo
que Jesus vai passar por ali”, relatou.
O aposentado acredita que a celebração de Corpus Christi é o
momento que representa o respeito e o amor que se tem por Jesus, pela
Sagrada Eucaristia. Ele contou que receber este Sacramento pela primeira
vez marcou muito sua vida; foi seu primeiro encontro com Cristo.
“Eu me lembro do entusiasmo, da alegria, da fé que eu tive quando eu
recebi a Eucaristia pela primeira vez, então pra mim ali foi o meu
primeiro encontro. Depois eu tive vários reencontros, então essa
comunhão com Jesus é sempre, espiritualmente é sempre”.
Eucaristia: como vivenciar este mistério?
Para os católicos, a Eucaristia é o sacramento mais importante, é a
centralidade da vida cristã. Tendo em vista a importância desse
Sacramento, padre Hernaldo deixou dois conselhos para que esta
intimidade com Jesus Eucarístico seja vivenciada não só na celebração
de Corpus Christi, mas ao longo de toda a vida cristã.
“Aí entra a importância, sobretudo, do Dia do Senhor, que tem que ser
cada vez mais valorizado em nossas comunidades. O domingo é o dia por
excelência da Eucaristia, porque é o dia por excelência da ressurreição
do Cristo. O conselho que eu dou é preparar melhor as nossas celebrações
dominicais, celebrá-la com mais intensidade, sem interferências. Outro
conselho, por decorrência, é o aprofundamento, o estudo da liturgia da
Eucaristia”, disse o padre.