É dever dos cristãos espalhar boas sementes pelo mundo
Há pessoas com tamanho gosto pelas plantas que se dedicam a recolher, por onde passam,
mudas
e sementes, para que a vida dada por Deus, na magnífica e variada flora
de nossa região, se multiplique por toda parte. Há gente que passa por
nossas ruas com carrinhos repletos de madeira, papelão ou ferro velho,
para transformar em trocados ou em salário. Os lixões da vida estão
repletos de catadores, diante dos quais muitos podem até virar o rosto,
mas se esconde ali uma dignidade desconcertante.
E
quantos são os homens e mulheres, artistas e poetas, quais trovadores
do dia ou da noite, que andam catando versos e compondo melodias feitas
de rimas incríveis, carregadas do humor ou da angústia do cotidiano. E
não são poucas as pessoas que recolhem imagens, para que dos pincéis dos
pintores ou das máquinas fotográficas ou filmadoras passem aos corações
a moldura da vida, com rostos e mais rostos.
A
crônica da cidade poderia se enriquecer com tantas outras figuras
provocantes ou curiosas, todas participantes do agitado malabarismo do
viver, que recolhem pedaços de histórias e de coisas, para compor o
grande concerto de nossa aventura humana.
Visto do alto, onde se encontra o Senhor, Aquele
que está também bem perto de nós, dentro de nós e no meio de nós, o
mundo fica até bonito. É que se trata de limpar os olhos para enxergar
melhor, para superar o derrotismo dos pessimistas ou a ingenuidade dos
que só enxergam a superfície. Há vida pulsando nas veias da humanidade e
da terra.
Há
um plano de amor com que tudo foi feito pelo Deus, que é amor. De fato,
“assim diz o Senhor Deus: Eu mesmo pegarei da copa do cedro, do mais
alto de seus ramos arrancarei um rebento e o plantarei sobre um alto e
escarpado monte. Eu o plantarei no alto monte de Israel. Ele
produzirá folhagem, dará frutos e se tornará um majestoso cedro.
Debaixo dele pousarão todos os pássaros, à sombra de seus galhos as aves
farão ninhos. E todas as árvores do campo saberão que eu sou o Senhor,
que abato a árvore alta e exalto a árvore baixa, faço secar a árvore
verde e brotar a árvore seca. Eu, o Senhor, falei e farei” (Ez
17,22-24). Deus é "incorrigível" em Sua mania de fazer jardins e
pomares! (cf. Gn 1 – 3).
A força criadora do amor de Deus faz
com que o bem se espalhe e se multiplique. É como “alguém que espalha a
semente na terra. Ele vai dormir e acorda, noite e dia, e a semente vai
germinando e crescendo, mas ele não sabe como isso acontece” (Mc
4,26-34). Faz parte da vida cristã identificar os sinais da presença de
Deus na história humana, olhar ao redor e perceber o bem que se faz,
para entender as parábolas da vida que o Senhor continua contando. Em
tais novas parábolas, os personagens somos nós mesmos, pois Deus nos
chama a sermos sinais de Seu Reino.
Entretanto,
com muita propriedade, vem à tona o problema do mal. Desde os
primórdios, os seres humanos inventaram mil formas para estragar o
jardim plantado por Deus. Até a isso se responde com a belíssima
parábola do joio e do trigo (cf. Mt 13,24-43). “Como o joio é retirado e
queimado no fogo, assim também acontecerá no fim dos tempos: o Filho do
Homem enviará seus anjos e eles retirarão do seu Reino toda causa de
pecado e os que praticam o mal” (Mt 13,40-41) Enquanto o mundo for
mundo, haverá a misteriosa presença do mal. Identificá-lo dentro e fora
de nós e oferecer soluções é tarefa permanente.
Até
para denunciar o mal existente, o melhor remédio é espalhar o bem. Vale
a máxima de São Francisco de Sales: "Com uma colherinha de mel se
atraem mais moscas do que com um tonel de vinagre". E temos à disposição
remédios preciosos: a pregação da conversão, a oração, os sacramentos e
o cultivo do “amor mútuo, com todo o ardor, porque o amor cobre uma
multidão de pecados” (1 Pd 4,8).
Como cristãos, auguramos que as sementes do bem se espalhem,
cresçam e frutifiquem, para que a árvore do Reino de Deus abrigue, como
aves do céu, gente de todas as raças e nações. Como nada podemos em
nossa fraqueza, suplicamos o socorro da graça de Deus para que possamos
querer e agir conforme Sua vontade, seguindo os Dez Mandamentos. Não faz
mal sonhar alto com um mundo novo!
Dom Alberto Taveira Corrêa
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