Bondade gera bondade
Há
quem diga que nossa vida é como o tear e todos os acontecimentos são
como fios entrelaçados entre si e revestidos de significados. Nada
acontece por acaso e, à medida que o tempo vai passando, vamos, cada vez
mais, tomando conhecimento do “bordado”, resultado da nossa história.
Contemplar a obra terminada é tarefa que foge das nossas mãos, mas colaborar para que ela seja apreciável é missão que se dá na generosidade partilhada por nós a cada dia.
Nossa
vida é repleta de acontecimentos, às vezes passam-se anos sem sabermos
notícias de quem um dia fomos cúmplices e, de repente, o reencontro
acontece. Em outros casos fomos ajudados por alguém e nunca o
encontramos para, ao menos, lhe agradecer. Há também situações em que
não conseguimos ser tão gentis com alguém como deveríamos, mas não houve
tempo para, nem sequer, pedir-lhe perdão... E por aí seguem os
acontecimentos que se entrelaçam como fios, dando cor e forma ao
"bordado" da nosso história.
Ouvi uma história que me fez pensar muito sobre isso. Partilho com você:
Conta-se
que, há muitos anos, um aristocrata inglês dirigia-se da Escócia para
Londres a fim de participar de uma sessão urgente do Parlamento. A sua
carruagem ficou atolada na lama e ele estava à beira do desespero quando
um jovem camponês apareceu com a sua junta de bois e a puxou para a
estrada seca. O homem nobre ficou tão grato que perguntou ao rapaz como lhe poderia agradecer.
O rapaz respondeu que não era preciso nada, pois ficava feliz por ter
sido útil. Mas o aristocrata insistiu, perguntando-lhe: “Com certeza
tens um sonho, ou alguma coisa de que gostarias de realizar na vida?”
Então o jovem respondeu: “Sempre sonhei em me tornar médico, mas isso
nunca será possível para mim”
Quando
o lorde chegou a Londres tomou providências para que o jovem camponês
recebesse uma bolsa de estudos e estudasse nas melhores escolas. Anos
mais tarde, num momento decisivo da Segunda Guerra Mundial, Sir Winston
Churchill estava morrendo vitima da gripe pneumônica. Nessa ocasião
foi-lhe administrado um novo remédio que lhe salvou a vida. Era a
penicilina. O remédio tinha sido descoberto pelo Dr. Alexander Fleming,
ninguém mais nem menos do que aquele jovem camponês. E o lorde inglês
que lhe tinha dado a bolsa de estudo, era justamente o pai do próprio
Winston Churchill.
É
interessante observar, ainda mais com a ajuda da história, o quanto
estamos interligados uns aos outros e como nossos atos gratuitos de
bondade tocam as pessoas que estão à nossa volta. Fica bem claro que a
lei da natureza funciona também neste sentido: O que plantamos é isso
que vamos colher.
Tudo
começou com um simples gesto de bondade da parte de um rapaz do campo. A
resposta foi outro ato de bondade, que se tornou benéfico para toda a
humanidade. Milhões de pessoas, até hoje, são curadas de doenças
terríveis graças à descoberta da penicilina. Ou seja: graças à
generosidade partilhada pelo pobre e pelo rico. Este é um exemplo
apenas, entre tantos que conhecemos.
É
bom saber que não estamos isolados neste mundo! Independentemente da
nossa condição, nossos atos têm consequências e podem podem mudar muitas
coisas. Eu, particularmente, já vi realidades difíceis serem mudadas
pelos pequenos e constantes gestos de bondade. Poderia citar aqui o caso
de um esposo agressivo, sem fé e preso aos vicíos voltar para sua
família e tornar-se um homem bom devido ao amor persistente e corajoso de sua esposa, que nunca deixou de o tratar bem e rezar pela conversão dele durante anos.
E
a história não para, Deus, que é o Autor da bondade, constantemente
bate à nossa porta à espera de que possamos dar um "sim" à generosidade,
como fez a Virgem Maria.
O
Cardeal Inglês, Seán O'malley, certa vez em visita ao Santuário de
Fátima, explicou que foi Nossa Senhora quem, generosamente, abriu as
portas da humanidade para Deus entrar pelo "sim" dela. Segundo ele, Deus
escolheu colocar o destino de todos os homens nas mãos de uma jovem e
contar com a bondade dela para enviar Seu Filho ao mundo e, depois por
intermédio d'Ele, nos salvar.
E
Maria, completamente livre diante de Deus, poderia ter se apegado aos
seus projetos pessoais ou alegado estar ocupada, inclusive com “as
coisas do Senhor”, a ponto de não O poder servir e Lhe dizer "não". No
entanto, ela foi generosa, aceitou despojar-se de si mesma e, com seu
“sim”, permitiu a Deus entrar na nossa história e na nossa família
humana. Desta forma, a Santíssima Virgem tornou-se o modelo a ser
seguido por cada um que, ao passar por este mundo fazendo o bem, deseja
um dia ser reconhecido pelo Senhor como “Benditos do meu Pai [...]” (Mt
25,34).
Hoje, inspirados pelo exemplo da Mãe de Deus e de tantos outros que conhecemos, tenhamos a coragem de optar pelo bem.
Isso, sim, vale a pena! O tear da nossa vida precisa de fios coloridos e
fortes para dar continuidade à obra começada desde o nosso nascimento.
Estejamos atentos e não deixemos passar as oportunidades que temos de
praticar o bem, principalmente para com os mais necessitados, sabendo
que Deus não improvisa. A bondade ou a maldade que semeamos hoje havemos
de colher amanhã.
Dijanira Silva
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