O sinal da cruz no limiar da celebração, assinala a marca de Cristo
naquele que vai pertencer-lhe e significa a graça da redenção que Cristo
nos proporcionou por sua cruz". Esta é a explicação que o Catecismo da
Igreja Católica (cf. CIC nº 1235) dá para o gesto que acompanha os
cristãos há séculos como sinal da fé que professam.
Os primeiros registros da prática devocional do sinal da cruz estão no escrito De corona militis de
Tertuliano. O texto diz: "Em cada caminhada e movimento, em cada
entrada e saída, no vestir, no calçar, no banho, no estar à mesa, no
acender as luzes, no deitar, no sentar, no lidar com qualquer ocupação,
marcamos a testa com o sinal da cruz" (3,4. PL 2, 80A).
De acordo com o padre Paulo Ricardo, sacerdote na Arquidiocese de
Cuiabá, Tertuliano apresenta algo que já era tradicional para a Igreja
na época, por volta do início do século III. No entanto, explica o
padre, esse sinal provavelmente era o pequeno sinal feito na testa,
visto que este tem registros nas profecias bíblicas.
No Livro de Ezequiel (Ez 9,4), o profeta tem uma visão de Deus falando
ao anjo: "passa no meio da cidade, no meio de Jerusalém e marca com um
Tau (sinal da cruz) na testa dos homens que gemem por tantas abominações
que nela praticam". Segundo padre Paulo, o sinal, fundamentado da
Bíblia, não demorou para ser reconhecido pela Igreja como sinal da cruz
de Cristo.
"Por causa dessa relação, o sinal da cruz pequeno foi se estendendo. Até
que se chegou na controvérsia cristológica do monofisismo (Jesus, uma
só natureza), algumas pessoas, para atestar a fé de que em Jesus existem
duas naturezas, passaram a fazer o sinal da cruz com dois dedos e
ampliaram o sinal, para que os dois dedos foram notados", relatou o
sacerdote.
A Simbologia do Sinal da Cruz
A Simbologia do Sinal da Cruz
Conforme explicação de padre Paulo, o "pequeno sinal da cruz" passou a
ser feito da testa ao peito, do ombro esquerdo para o direito, com os
dois dedos. Passados os anos, com a intenção de simbolizar a Santíssima
Trindade, os cristãos traçavam o sinal da cruz com três dedos e dois
recolhidos, lembrando as duas naturezas de Cristo. A riqueza deste sinal
fez com que este se estendesse por toda a Idade Média, inclusive no
Ocidente.
O Papa Inocêncio III escreveu sobre o assunto e explicou como o sinal da
cruz deveria ser feito pelos cristãos da época. "O sinal da cruz deve
então ser feito com três dedos, pois ele assinala sob a invocação da
Trindade; a respeito da qual disse o profeta: "quem pendurou com três
dedos a massa da terra?’ (Isaías 40,12). É assim que se desce do alto
para baixo, e da direita se passa à esquerda, pois Cristo desceu do céu à
terra e dos Judeus passou para os gentios. Alguns [sacerdotes], porém,
fazem o sinal da cruz da esquerda para a direita, pois devemos passar da
miséria para a glória, assim como Cristo passou da morte para a vida e
do inferno para o paraíso, para que eles assinalem a si mesmos e os
outros em uma só direção”.
No entanto, padre Paulo Ricardo esclarece que, atualmente, a legislação
para o Ocidente com relação ao sinal da cruz está contida no Cerimonial
dos Bispos. Na nota de nº 81, no número 108, verifica-se uma citação do
antigo ritual romano para a celebração da Missa, que diz:
"Ao benzer-se, volta para si a palma da mão direita com todos os dedos
juntos e estendidos, faz o sinal da cruz da fronte ao peito do ombro
esquerdo ao direito. Quando abençoa os outros ou benze outras coisas, [o
bispo] volta o dedo mínimo para aquilo que abençoa e ao abençoar
estende a mão direita mantendo os dedos juntos e unidos."
De acordo com o padre, a rica simbologia nesta forma de fazer o sinal da
cruz está na representação das chagas de Cristo. “Os cinco dedos
estendidos, representam as cinco chagas de Cristo, que são o sinal da
cruz. Cristo, com a sua cruz, tira toda a condenação do homem (por isso,
da esquerda para a direita).”
Como termina o Sinal da Cruz?
Como termina o Sinal da Cruz?
Sobre a maneira que se deve finalizar o sinal da cruz, padre Paulo
explica que, liturgicamente, o correto é terminá-lo com as mãos juntas
ou postas.
"Antigamente, tinha-se o costume de fazer o sinal da cruz com o terço na
mão direita. Ao concluir o gesto, beijava-se a cruz. No entanto, com o
passar dos anos, o mesmo gesto continuou sendo feito, porém, sem o
terço, ou seja, as pessoas faziam o sinal da cruz e beijavam a mão, sem o
terço", explicou. Essa tradição atravessou as gerações e chegou até os
tempos atuais. Mas, segundo o padre, a maneira litúrgica, o correto é
terminar o sinal da cruz com as mãos postas, frente ao peito.
Por fim, padre Paulo ressalta que fazer o sinal da cruz com devoção não é um ato supersticioso, mas uma verdadeira entrega da própria vida à cruz salvadora de Cristo. "O sinal da cruz é um sacramental, seja na forma reduzida como na mais ampla, que deve ser usado abundantemente",
Por fim, padre Paulo ressalta que fazer o sinal da cruz com devoção não é um ato supersticioso, mas uma verdadeira entrega da própria vida à cruz salvadora de Cristo. "O sinal da cruz é um sacramental, seja na forma reduzida como na mais ampla, que deve ser usado abundantemente",
Padre Ricardo
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